segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Set.2013. Bairro de São José, Recife

(série de mapas inventados espalhados por paredes descascadas dos bairros).

 


"A memória rápida ou de curto termo é aquela que recebe as informações de entrada captadas pelos olhos, ouvidos, olfato e tato e os passa ao sistema cognitivo. É nela também que são depositadas as informações de saída, ou seja, as informações que se expressa com a fala, movimentos e ações. A memória rápida, tem este nome porque armazena as informações por um período de tempo muito pequeno, da ordem de 10 segundos, e além disto contém informações de ações que se desenvolve repetidamente em frações de segundos, donde se conclui que seu acesso é extremamente rápido. Também é chamada de memória de curto termo porque armazena poucas informações a cada vez.

A memória de trabalho recebe este nome porque é nela que as informações que chegam da memória de curto termo, são trabalhadas, são concatenadas, para depois serem enviadas para a memória permanente. Ela é portanto, uma memória temporária, e as informações ali contidas podem ser retidas por um tempo bem maior que a memória rápida, porém não de forma permanente. A memória de trabalho também é responsável pelo retorno, pela recuperação das informações que estão na memória permanente, até um meio de saída (fala, escrita, etc). Usando algum tipo de mecanismo, a recuperação é feita e levada à memória de curto termo.

A memória permanente tem este nome porque consegue armazenar lá informações que como diz o nome são permanentes e para sempre. Também é conhecida como memória de longo termo porque é uma memória de grande capacidade, aliás, capacidade até dita ilimitada segundo alguns estudiosos. O que efetivamente ainda não se sabe é como lá colocar tamanha quantidade de informações em tempo relativamente curto".

(trecho retirado de estudos de fisiologia humana, Funcionamento da Memória)



Muitas vezes eu tenho uma memória de elefante, muitas outras vezes sou uma cabeça de vento.

Tem momentos que sei bem os caminhos porém logo mais adiante é possível eu desorientar completamente e me perder.

Não me oriento dentro de grandes centros comerciais, mesmo tendo estado muitas vezes dentro deles.

Na cidade quando sei os caminhos, gosto sempre de mudar. Se vou por um caminho num dia, no outro faço um diferente. Em cidades que conheço pouco,algumas vezes decido por um atalho, que me faz alongar o percurso.

Gosto de andar. Tenho a tendência a ir andando quando dá.

Se não me falha a memória, em maio de 2013 iniciamos de fato o projeto Via Expressa, conversamos, olhamos um mapão de Recife e fizemos juntas nosso primeiro e único passeio pela cidade (eu, irma e dani). Único juntas, porque depois desse, aconteceu que cada uma seguiu seu caminho sozinha por essas ruas.

Nosso primeiro passeio foi numa tarde ensolarada e calorenta, típica de Recife. Fomos andando de Casa Forte até Casa Amarela,subindo um pouco pelo Alto Santa Isabel.

Passamos um tempo dentro do cemitério de Casa Amarela, que resultou nas minhas primeiras fotos e anotações dessa série de passeios pela cidade.

A partir daí decidi que esse meu mapa afetivo da cidade seria feito por passeios, acompanhado por alguém que morasse no bairro ... algum amigo que me mostrasse o lugar onde mora, me levasse numa padaria, num bar, numa praça ... em qualquer lugar. E que fosse uma tarde ou manhã de conversas, andando por aí.

Observando essa cidade e vasculhando a memória me veio avalanches de idéias que não saíram da mente. 

Lembrei que meu pai, italiano de origem, veio para o Brasil pela primeira vez nos anos 1970 e foi justamente para Recife. Foi morar no bairro da Estância, trabalhava no Coque.

Passou dois anos, foi embora ... tempos difíceis ... voltou mais um tempo, trabalhou no Iphan ... nesse vai e vem eu acabei nascendo.

Não conheci, essas casas nem esse bairro. Tive vontade de ir lá ver as casas, ver o bairro.

Dentre os vários passeios que fiz, a Estância, resultou nos Telegramas Fonados, 1970-2014, que são uma viagem no tempo através de curtas frases do meu pai para mim e vice versa. Ele me conta coisas cotidianas daquele tempo que morou lá e eu conto as minhas impressões de agora deste lugar.

Minhas impressões afetivas dos lugares, vêm misturadas com as conversas que tive com os amigos que me acompanharam durante os passeios.

Os passeios sempre eram feitos a pé, de bicicleta, de ônibus ou metrô. Teve só uma vez que usei carro. Essa informação é dada, pois para mim o passeio incluia o saber chegar de transporte público no lugar. E mais, observar esse caminho.

O vivido nesse processo de observação da cidade é riquíssimo e é ao mesmo tempo difícil de traduzir.

A exposição Via Expressa, conclui uma parte do trabalho, mas para mim é sempre um começo.



Já é madrugada, estou morrendo de sono. Boa noite!

Isabela Stampanoni



Um abraço para todas as pessoas com quem conversei sobre a cidade, o tempo, as mudanças.


Eduardo Magalhães (Investigador INESC Porto (Sonoscopia Platform for experimental music and performance arts)
Alberto Stampanoni (relatos Estância, Barro, Coelhos, Coque)
Norma Rosas (relatos da Encruzilhada)
Hugo Coutinho (passeio Aflitos, Rosarinho, Ponto de Parada, Hipódromo)
Zeca Viana (passeio Estância)
Mozart Santos (passeio Ibura)

vista geral da exposição A Via Expressa (parte Se Não Me falha a Memória)
Mesa de bar, Recife (detalhe da mesa)
Telegramas Fonados 1970-2014 (detalhe)
água da fonte milagrosa - Vila dos Milagres, Ibura
Cidade do Porto - Recife
Estância
Se Não me Falha a Memória
Mapas Inventados nas paredes (registro)
Destrambelhada

Imagem do texto "Se Não Me Falha a Memória" na exposição A Via Expressa